Monday, December 24, 2012

O Natal é muito mais do que Natal...

Chão de pedra fria e castigada por Invernos cinzentos. A lareira apenas adormecia em tons de laranja, por um fio de minutos, logo despertava poderosa e gritante. Lembro-me de soprar até corar, ela não podia adormecer por estes dias. Lembro-me de arriscar o tom de pele quando espreitava por trás da chama, a cada minuto, para o ver chegar. Lembro-me de estar descalço para não fazer barulho, de tapar o nariz para não tossir de fumo. Lembro-me principalmente de ler imenso nessa noite, para vencer o sono. Lia jornais antigos e ia atirando cada folha lida para o lume, que devorada as palavras mais depressa do que eu. Lembro-me de ser vencido e adormecer num velho sofá estridente de idade. Lembro-me de ouvir a Avó acordar e de me atirar para o chão, em tábuas dançantes de pregos soltos, fingindo ter caído da cama. Lembro-me de a ouvir lamentar-se e de me ajudar a voltar para o sofá. Eu contia o sorriso. A casa era, de facto, pobre. Não há outra descrição. Mas sentia-se, a cada segundo, um vibrante luxo de sensações, um tesouro fantástico de emoções. Corria para a lareira, a velhinha cafeteira de latão já despertara, a gigante fatia de pão beijava as brasas, e os olhares ternos de amor não precisavam de embrulho. Espreitava uma última vez para ter a certeza que saíra bem e que já voava alto. Em pijama fintava as ruas de alegria, em neblina turva, empurrando o carrinho amarelo, e constipava-me, como sempre. Um contentamento doce. O chão de pedra fria e castigada por Invernos cinzentos não era mais frio. O Natal é muito mais do que Natal. Feliz Natal.

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