Tuesday, February 10, 2009

O raio do "frigorífico enorme da Coca-Cola cheio de garrafas e de outras pocarias", que não tem outro nome, não parou de fazer barulho toda a refeição. E eu ali, a 50 centímetros. De tempos a tempos, um dos empregados atingia o pico dos nervos e resolvia temporariamente a questão, enfiando no "frigorífico enorme da Coca-Cola cheio de garrafas e de outras pocarias" um uppercut de fazer corar os fiéis seguidores de Muhammad Ali. E eu ali, a 50 centímetros. Nos últimos minutos, a estratégia da semi-violência já não resultava. Então o empregado, abria e atirava a porta como se não houvesse amanhã. E eu ali, a 50 centímetros. De facto, fazia-se silêncio por breves instantes, mas logo regressava aquele barulho típico de motor de rega do milho que não funciona há 30 anos e de repente quer inundar os campos. Por momentos senti vontade de sovar o empregado. Apenas porque não é justo bater em máquinas. Peço a conta, ligo o pc e quem aparece, quem, quem, quem...? O empregado! Abre a porta mas... a porta não abre! E puxa com força mas a porta não abre. Olha para mim e diz qualquer coisa da qual só entendi car... (click)... (mais um click) que pariu... Acabou-se. Fechei o pc. Levantei-me para pagar. Instintivamente fiz um comentário à "tranquilidade" que foi este almoço. Deitei mãos ao puxador em forma de tampa de garrafa de Coca-Cola versão tamanho volante e puxei. Ora, digamos que puxei 3x.
Dois segundos depois...
Estardalhaço que parecia ter caído um relâmpago em cima da feijoada de um dos clientes. Eu estatelado no chão. Empregado estatelado no chão. Porta do "motor de rega do milho" estatelada em cima de mim e eu em cima do chão. Silêncio perturbador e umas boas dezenas de olhos apontados a mim. É MUITO MUITO MUITO TRISTE, garanto-vos.
Dez minutos depois...
Saio do restaurante, com as minhas calças da moda perfumadas de Coca-Cola e Sumol e guardando na memória fotográfica todos os pormenores do que me rodeia. Pressinto que não passarei mais por aqui, num raio de, pelo menos, 10 km. Uma família está à porta e diz a pequena: "Pai, pai, pai! Foi este senhor!". É a cereja em cima do bolo. Um must. Agora sim, sinto-me mesmo alguém neste Munde!
Trinta minutos depois...
Área de serviço da A8, antes da Lourinhã... corre uma jovem para me pedir o telemóvel, para colocar o cartão no telemóvel dela, porque não consegue abrir o telemóvel novo acabado de comprar e no antigo é que estão os contactos e tem de fazer uma chamada urgente. Agora também não entendi nada, mas na altura, juro-vos, entendi logo. Acedi. Agradeceu como se tivesse atravessado o Sahara de galochas, em plena tarde de Verão, com um maçarico ligado dentro de cada uma e eu agora aparecesse com uma pedrinha de gelo. Agora recebo sms´s para encontrar no mesmo local amanhã. Bom... ou é para me raptar ou então, não tenho dúvida... o mundo entrou em estado de irreversível demência...

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